Webpalestra sobre o uso racional de medicamentos discute impactos clínicos, humanísticos e econômicos

Foto: Míriam Donald

“No Brasil, mais de 77% das pessoas se automedicam por influência de várias, sobretudo por influência da mídia. Às vezes, o principal interesse é a venda, por exemplo”. A afirmação da farmacêutica, mestra em Ciências Farmacêuticas, doutoranda em Ciências da Saúde, e pesquisadora do LEPFS, Fernanda Valença Feitosa, alerta para o uso racional de medicamentos, tema abordado na tele-educação desta quinta-feira, 05, que discutiu sobre conceito, impactos clínicos, humanísticos e econômicos que envolvem a causa. Promovida pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), em parceria com a Fundação Estadual de Saúde (Funesa), através da Escola de Saúde Pública de Sergipe (ESP/SE), por meio do Telessaúde Sergipe, a webpalestra ocorreu em alusão ao Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos.

Voltada a profissionais de saúde da Atenção Primária (APS), gestores municipais e estudantes, a ação educacional destacou a importância de abordar a temática. Fernanda, que atua na área de Atenção Farmacêutica, Farmácia Clínica e Farmacoeconomia aplicada aos serviços clínicos, explicou que o impacto negativo, tanto clínico, como econômico e humanístico, é alto, “devido a vários motivos, desde o acesso rápido à internet e o acesso fácil a informações de saúde. Isso não é necessariamente ruim, pois o paciente precisa ter autonomia sobre a sua condição de saúde, precisa entender sobre o seu tratamento”.

Foto: Míriam Donald

De acordo com Fernanda o problema é quando o paciente vira o pivô do seu próprio diagnóstico, pois acaba assumindo consequências que não deveriam ser inerentes a ele. “Existem profissionais de saúde especializados para isso. Muitas das vezes, o paciente sequer consegue identificar se aquela fonte de informação é idônea ou não. Na maioria das vezes, o que achamos não é muito confiável, por isso precisamos ter cuidado. Além disso, é necessário que as prescrições em geral obedeçam a diretrizes clínicas, que são construídas levando em consideração o cuidado e segurança do paciente”, disse a pesquisadora.

Todo ano, cerca de 20 mil pessoas morrem como vítimas da automedicação, segundo informou Fernanda, durante a webpalestra. “Observamos as consequências do milagre em potes, em cápsulas, em medicamentos injetáveis, sem comprovação do efeito adequado, da eficácia. É um equipamento novo que não sabemos o que pode causar”. Quanto aos maiores desafios, a profissional apontou sobre a facilidade de acesso a esses fármacos, além da quantidade de informação na internet. “Mesmo que alguns medicamentos precisem de apresentação de receita, ainda há possibilidade de compra sem essa receita. Com a retenção dessa receita, essa situação ainda é bem fiscalizada, respeitada. Porém, ainda há a falsificação de alguns processos para tentar burlar esse sistema estabelecido”.

Foto: Míriam Donald

Para Fernanda há pacientes sem a devida noção das consequências e perigos, e alertas surgem quando a pessoa morre, quando a circunstância é mais drástica. “Uma morte causada por medicamento é muito mais difícil de diagnosticar, mais difícil de identificar que foi causada por excesso de medicamento. Por isso registramos dados preocupantes. Vale reforçar que isso não acontece somente no Brasil, mas no mundo inteiro. No Brasil, acaba sendo um pouco mais crítico, porque tem uma cultura envolvida”, ressaltou.

Outros fatores

É preciso conciliar necessidades terapêuticas com possibilidades de custeio para tomadas de decisão. Segundo Le Grand; Hogerzeil & Haaijer-Ruskamp (1999), “o uso irracional de medicamentos é um importante problema de saúde pública em todo o mundo, com grandes consequências econômicas”.

A estimativa de custo anual de morbidade e mortalidade relacionadas a medicamentos prescritos resultantes de terapia medicamentosa não otimizada foi de US$ 528,4 bilhões em dólares americanos de 2016, equivalente a 16% do total de gastos com saúde. O custo médio de um indivíduo com falha de tratamento foi de US$ 2.481.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) “existe uso racional quando os pacientes recebem os medicamentos apropriados à sua condição clínica, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um tempo adequado e ao menor custo possível para eles e sua comunidade”.

Criado para alertar a população quanto aos riscos à saúde causados pela automedicação, o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos também tem o objetivo é ressaltar o papel do uso indiscriminado de medicamentos e a automedicação como principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação por medicamentos.

 

 

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Última atualização: 5 de maio de 2022 18:15.




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