SES e Funesa realizam ação sobre Saúde Mental no Prefem

Foto: Míriam Donald

Internas participam de momento de integração com roda de conversa e Práticas Integrativas

Com 29 anos de idade, Gabriella Bonfim define que “a prisão liberta e a liberdade, de forma equivocada, é que prende”. Interna há dois anos e quatro meses, ela diz que seu maior objetivo é proporcionar um futuro para a filha de quatro anos. “Quando eu vim pra cá, ela ainda amamentava. O difícil é isso. Na roda de conversa pudemos entender que cuidar da nossa saúde mental é muito importante. Nesse momento, me veio a memória de quando cheguei aqui e saí para a convivência pela primeira vez. Meu coração acelerou, fiquei tensa, nervosa”, conta. Ela e outras privadas de liberdade do Presídio Feminino (Prefem) participaram da ação da Secretaria de Estado da Saúde (SES), em parceria com a Fundação Estadual de Saúde (Funesa), que proporcionou um momento de roda de conversa, além dos serviços de Práticas Integrativas e Complementares, ofertados pelo Movimento Popular de Saúde (Mops). A ação, ocorrida durante a quarta-feira, 27, integra a programação “Todxs por Todas”, realizada pela Vice-Governadoria, em alusão ao mês internacional da mulher.

Foto: Míriam Donald

Ao compartilhar sua realidade, Gabriella diz que cumpre pena por tráfico de drogas e o esposo também está preso por tráfico, roubo e homicídio. “Tenho objetivos e acredito que posso fazer diferente. Eu era muito ignorante e furiosa, mas com o decorrer do tempo e conversas com agentes que trabalham aqui e outras colegas, aprendi a desenvolver o autocontrole e respeitar o momento dos outros, assim como respeitam o meu. A gente aprende a conviver de forma sadia, mesmo quando passamos por experiências de violência. Já fui agredida física e psicologicamente e hoje tenho a consciência do que posso lutar por direitos iguais. Hoje, não permito que me violentem”, relatou Gabriella.

O psicólogo e referência técnica da Saúde do Homem da SES, Demétrio dos Reis, conduziu o momento da roda de conversa, com uma dinâmica sobre o momento presente e não somente o que foi vivido no passado. Na abordagem, ele falou de questões que pode levar a mulher a adoecer psicologicamente, que inclui frustrações. “Trouxemos a reflexão e elaboração de uma perspectiva de vida diferente. A busca pela saúde mental está presente em diversos momentos da nossa vida. E nessa condição, é preciso repensar o cotidiano, já que essas mulheres estão em uma situação diferenciada das pessoas em liberdade. Refletimos sobre o que ajuda elas podem ter pra reconstruir a saúde mental. Fiz uma abordagem sobre a busca da felicidade, por meio de aspectos desenvolvidos em nossas relações sociais. “Enquanto ser social, buscamos a felicidade através de reconhecimentos. Então pensamos realidades possíveis. Se uma interna está bem, outras também podem estar”.

Foto: Míriam Donald

Na estrutura há duas salas de aula para os cursos de supletivo, além de cinco cursos profissionalizantes nas áreas de artes/artesanato, que são subsidiados pelo Funpem (Fundo Penitenciário Nacional). Segundo Gilderlan Celestino Trindade, coordenador pedagógico do Prefem, a parte investida para a reinserção social é gerida pelo Ministério Público Estadual (MPE) e a outra pela Secretaria de Estado da Justiça e Defesa ao Consumidor (Sejuc). Além disso, há o projeto do Ateliê Odara, onde as internas podem desenvolver costura e artesanato de bonecas de pano, amigurumi (arte japonesa de bichinhos produzidos com linha de crochê) e patchwork.

“Minha função é reinseri-las socialmente. Então, quando temos essas atividades, preferimos priorizar quem mais precisa e quem faz uso de medicação contínua porque elas não participam de atividades com frequência, sobretudo pela fragilidade pelas comorbidades, como as hipertensas, diabéticas e gestantes. Dessa forma elas foram beneficiadas com Reiki e Massagem, já que em outras atividades elas ficam limitadas. Elas são tratadas como pessoas que oferecem riscos à sociedade e trabalhar o psicológico contribui na diminuição de agressividade e stress. Há uma carência afetiva, pois poucas recebem visitas de companheiros, ao contrário da realidade masculina. Então essas atividades são essenciais, pois elas precisam criar confiança e entenderem que podem ser felizes sem depender de uma outra pessoa”, disse Gilderlan.

Foto: Míriam Donald

Atenção psicológica

Para a coordenadora de Promoção e Prevenção à Saúde da Funesa, o momento de ouvir a comunidade prisional é fundamental na assistência a ser dada a essas mulheres. “Elas puderam falar das suas experiências pessoais em relação à violência, colocar seus sentimentos. A finalidade foi possibilitar uma escuta qualificada e troca de vivências, ao mesmo tempo em que recebiam cuidados como massoterapia e Reiki foi muito gratificante. Esse espaço de autocuidado e valorização é de suma importância, principalmente considerando a situação de privação de liberdade em que elas se encontram. O olhar com respeito, reconhecendo as individualidades”, ressaltou.

A diretora do Prefem, Andréa Andrade, pontuou sobre a realidade das internas, que por viverem confinas, necessitam de uma atenção adequada. “É uma atividade que gera conforto e ajuda na saúde mental dessas mulheres que vivem confinadas. Com esse trabalho, a Secretaria de Saúde mostra que é extremamente necessário ouvir mulheres privadas de liberdade. É um momento de atenção e que influencia em suas vivências. A mulher encarcerada é diferente do homem encarcerado. Ela se sente mas carente e essa atenção é importante nesse processo”.

A pena de Gabriella se encerrará em novembro de 2020. “Aqui descobri que tenho capacidade de fazer coisas que nunca imaginei, como costura e bordados artesanais. Se eu tenho jeito pra isso, tenho pra ser uma pessoa melhor. Faço peças em vagonite, ponto cruz e amigurumi, que aprendi aqui dentro. É disso que tiro lucro, pois minha mãe consegue vender lá fora. Dessa forma podemos refazer nossa vida. Aqui também construí amizades verdadeiras. Isso me motiva a fazer diferente e escrever novos capítulos da minha história. Aqui não é o fim, mas uma oportunidade de fazermos novas escolhas”, afirmou.

 

 

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Última atualização: 10 de novembro de 2021 17:25.




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